Cidade, local de democracia

Por Lucian De Paula | 23/01/2018 | 3 min.

Democracia é um processo, não um evento

Essa é uma frase que eu adoro e gostaria que mais gente entendesse. A democracia é acordo e concessão, é construção de consenso, é a queda de braço respeitosa lado a lado da ajuda mútua. Já a cidade é onde você faz essa democracia.

Das inúmeras coisas negativas no país, ações e crenças que trazem retrocessos, atrasos, prejuízos, eu acredito que uma das piores é a ilusão de que democracia é sinônimo de eleições. Veja, não que eleições não façam parte da democracia, mas são uma parte minúscula do todo, e isso é frequentemente esquecido. Da mesma forma que dedos fazem parte do corpo humano, mas você não diria que um ser humano é sinônimo de dedos, nem que uma mão, por si só, constitui um ser humano. A democracia é um processo, do qual nós fazemos parte e construímos dia a dia, com todas as nossas ações que envolvem o público e a política. Ela não é um evento que ocorre a cada 4 anos e dura apenas o apertar de alguns botões.

Legenda: Foto: Paulo Henrique Baumann / Wikimedia Commons

Você pode mandar um e-mail para o seu senador, deputado ou vereador. Você pode entrar no site da Câmara e fiscalizar gastos. Você pode ligar no gabinete do prefeito ou do partido e dar sua opinião a respeito de determinado assunto. Você pode contribuir sugestões no site da prefeitura. Você pode ir à reuniões da sua prefeitura regional. Você pode ser ouvido nas reuniões do Plano Diretor Estratégico da sua cidade. Você pode colher assinaturas e apresentar um projeto de lei federal. Você pode votar online pela web-democracia em pesquisas do planalto. Você pode incluir sugestões nas minutas de projetos de lei. Você pode seguir seus candidatos pelo Facebook para lembrar em quem você votou e ver o que eles estão fazendo, e você pode inclusive se candidatar a esses cargos. Mesmo assim, sempre haverá mais para fazer. Essas ações são bastante diretas e voltadas para aquilo que nós tradicionalmente entendemos por “política”: um contato direto com o governo. Mas e todo o resto do tempo?

A cidade é o espaço físico onde vivemos, e o que nós decidimos fazer com esse espaço tem seu significado. Há política toda vez que você resolve subir a pé no Minhocão pra ver um teatro, e dá um novo significado para aquela obra dedicada aos carros. Quando vocês se juntam num centro cultural para estudar e aquilo vira um ambiente educacional, há política aí. As pessoas fazem política e brigam pela democracia no espaço público (e no uso que fazem dele), mesmo quando não percebem. Quando se reúnem numa estação de metrô para dançar break, quando evitam uma região, quando passeiam com seus cachorros numa praça, quando fecham uma rua sem saída com portão, quando pedalam em grupo por uma avenida, quando constróem uma rampa de estacionamento que bloqueia a calçada, quando picham, quando varrem, quando pedem mais prédios, quando pedem menos prédios, etc. As bandeiras, inúmeras, se erguem de maneira inconsciente mas podem ser percebidas.

O Urbanerds, com essa gente que gosta muito de cidades, quer observar um pouco disso. Vendo os efeitos podemos estudar as causas, podemos propor mudanças, podemos rir da consequência inusitada e torcer o nariz para aquilo que a gente achava bom tempos atrás, mas que hoje não está dando o resultado esperado.
Tem um grau de política aí, como já deu para perceber. Eu tenho uma visão de mundo, e acho que ele pode melhorar em muito a partir das atitudes políticas de cada um. Aqui no Urbanerds a idéia é documentar, estudar e propor. Depois a gente corre pra cidade pra colocar tudo em prática, porque é lá que as coisas acontecem.


Colaborações: Originalmente publicado no Urbanerds. Texto gentilmente cedido para publicação pelo autor



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