Subterfúgios e ausência de soluções críveis esvaziam críticas ao adensamento de Pinheiros

Por Guilherme Pucci | 20/04/2024 | 3 min.

Legenda: Avenida Pacaembu em fevereiro de 2018
Qualquer movimentação tem causa/efeito em toda a estrutura metropolitana. O cerne dos interesses dos agentes que se organizam em torno de Pinheiros, assim como já acontecia no Pacaembu, é evitar o adensamento da região, potencialmente afetando milhões de habitantes em dezenas de municípios

Artigo adaptado a partir de uma resposta ao Pró-Pinheiros no Instagram.

Considerando que estamos em um ambiente urbano metropolitano, qualquer movimentação tem causa/efeito em toda a sua estrutura. O Pró-Pinheiros, assim como a comunidade do Pacaembu, é uma coalizão de agentes com seus próprios interesses, e o cerne dos interesses dos agentes que formam o Pró-Pinheiros é evitar o adensamento da região.

O Pacaembu, assim como Pinheiros, possui poder econômico, tempo (que se configura como organização) e influência política. No entanto, acredito que a influência política do Pacaembu é muito maior do que a de Pinheiros, construída ao longo de muitos anos. Isso é evidenciado pelo fato de que nem uma padaria consegue se estabelecer naquela região. Certamente, é a elite do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro que reside lá. Tendo isso em vista, uma vez que a região na qual o Pró-Pinheiros se propõe a incidir está sendo adensada e seus agentes não estão conseguindo impedir isso, subterfúgios são utilizados para justificar os seus interesses fundamentais, os quais são:

  1. Patrimônio histórico;
  2. Arquitetura executada;
  3. Causas ambientais;
  4. Causas sociais.

Eu não vejo relevância no patrimônio histórico dessas residências para o estado de São Paulo. Talvez haja um valor sentimental para os moradores, mas isso é ínfimo em comparação com a importância da RMSP (Região Metropolitana de São Paulo). Será que o padrão arquitetônico existente é motivo suficiente para impedir o adensamento? Creio que não.

As questões ambientais, como as garagens em lençóis freáticos, realmente representam um problema a ser abordado. No entanto, sinto que o Pró-Pinheiros as abraça mais como uma tentativa de impedir o adensamento do que para realmente resolver a questão. Mesmo que fossem construídos apartamentos com uma arquitetura “aceitável” e sem garagens, ainda assim o Pró-Pinheiros seria contra. As HIS (habitações de interesse social) servem apenas como uma distração para desviar o foco do verdadeiro cerne da questão (o adensamento), tornando-o mais aceitável para opiniões progressistas. Todos sabemos que é praticamente impossível, na realidade existente, construir HIS com pessoas de baixa renda realmente morando ali. Existem movimentos sociais cujo foco principal é exatamente a habitação social, atendendo a pessoas de baixa renda que realmente necessitam e lutam por essas moradias.

Por fim, por que o adensamento na região é benéfico e não prejudicial? A região em que agentes ligados ao Pró-Pinheiros residem é rica em infraestrutura, possui transporte de alta capacidade, além de diversos serviços e acessos. Por isso, deve ser adensada. Quando o governo não promove o adensamento dessas regiões, a classe média que se estabeleceria ali acaba migrando para as periferias, disputando espaço em áreas que não possuem nem 10% da infraestrutura e dos acessos que existem na região. Isso resulta em uma cidade mais caótica e mal planejada. É necessário pensar no desenvolvimento e no interesse coletivo, e não apenas em grupos específicos.

“Ah, isso é gentrificação em nossa região!”. Não, a gentrificação ocorre quando uma comunidade de baixa renda é praticamente expulsa por outra de renda muito superior. No caso de Pinheiros, suspeito que o poder aquisitivo dos moradores dos prédios erguidos é até inferior ao dos moradores das residências que estão sendo demolidas.




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