Futuro da Linha 7-Rubi será definido em breve. Cenário não poderia ser pior

Por Caio César | 03/01/2024 | 4 min.

Legenda: Trem da série 9500 na Estação Utinga, na Linha 10, circulando desde Francisco Morato, na Linha 7. Cena que deverá ficar no passado
Em tom digno de uma marcha fúnebre, gostaríamos de reiterar que o destino da Linha 7-Rubi (futuramente, Palmeiras·Barra Funda-Francisco Morato-Jundiaí) será selado em fevereiro de 2024

Não, 2024 não começou e não terminará bem. Centenas de milhares de periféricos, independente do que pensam ou de como votam, terão seu futuro acorrentado a um contrato longo e traiçoeiro entre governo do estado e iniciativa privada.

Imaginamos que não seja segredo para ninguém: não haverá oposição contundente. O governo federal investirá recursos da controversa nova versão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), excessivamente focada em obras com baixa relevância para estabelecer uma trajetória positiva para nossos principais tecidos urbanos. O governo estadual também colocará quanto dinheiro for necessário para não esvaziar a vampírica participação da iniciativa privada.

Petistas, bolsonaristas e seus satélites não ousarão levantar vozes opositoras. A concessão da Linha 7-Rubi vai passar. Dentro de alguns anos, um trem regional mambembe vai sugar recursos do erário para entregar um serviço ridículo.

Prólogo Entre as sugestões das pouco mais de 15 empresas que participaram das sondagens realizadas pelo governo estadual em setembro, comentadas pelo site Metrô CPTM em 18 de novembro de 2021, há elementos preocupantes e que, mais uma vez, reforçam que o TIC (Trem Intercidades) Eixo Norte é um projeto limitado e controverso. Contextualização Parece existir muito pouca preocupação com o bem-estar do passageiro atual da Linha 7-Rubi (atualmente Jundiaí-Brás, como parte do Serviço 710) da CPTM (Companha Paulista de Trens Metropolitanos), fora o pouco dinamismo (ausência de estações e estratégias de desenvolvimento urbano e imobiliário) para as estações do serviço parador que deverá operar entre Francisco Morato e Campinas (chamado de TIM, sigla para Trem Intrametropolitano), compartilhando seus trens com a Linha 7-Rubi e suas vias com o único serviço regional, que deverá ser completamente expresso entre as estações Campinas e Palmeiras·Barra Funda (que é o TIC de facto).

Em nenhum momento as populações que dependem da Linha 7-Rubi receberam esclarecimentos ou foram vistas com a devida importância. O papel atribuído a elas é análogo a uma posição coadjuvante, marginal, descartável, irrelevante.

Para acariciar o eleitorado “carrólotra” do interior, protegido por milhões de pobres e remediados, inebriados com a longínqua possibilidade de reproduzirem estilos de vida regados a gasolina, pedágio e exclusão, vidas precisarão ser sacrificadas.

O Trem Metropolitano, na figura da Linha 7-Rubi, será acachado por um serviço regional invasor de baixo desempenho, que jamais seria admitido num país com imprensa séria, responsabilidade social e ambiente político maduro. Discuti-lo, porém, ultrapassa as capacidades de um Coletivo que, na maioria de suas manifestações, não passa de uma voz enfraquecida na Zona Leste paulistana.

Com a concessão, para além dos riscos de colocar uma infraestrutura centenária e delicada em mãos amadoras, a Linha 7-Rubi perderá a capacidade de oferecer serviços mais diretos e mais confortáveis para aqueles que jamais poderão pagar cerca de R$ 60 numa tarifa. A primeira vítima será o Serviço 710, um suspiro desesperado, possível após décadas de readequações (incluindo o aumento considerável da frota de trens), resultando na reunificação das linhas 7-Rubi e 10-Turquesa (com sorte, futuramente, Palmeiras·Barra Funda-Rio Grande da Serra).

Franco da Rocha e Francisco Morato, municípios cujo principal ativo é um relevo declivoso e de ocupação desafiadora, com mares de morros originalmente deslumbrantes, estarão, ambas, condenadas a serem periferias violentas e sombrias de duas metrópoles errantes: São Paulo e Campinas.

Nós fracassamos. De novo. Nossa única esperança de coordenar o desenvolvimento ao longo da bacia do rio Juqueri, quase como um condão, estava depositada nos trilhos da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Em fevereiro, considerando a negligência que tem permeado o cotidiano das linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Mendes·Vila Natal), o sequestro será consumado e um período de trevas terá início, com o agravante de não envolver apenas o Trem Metropolitano, mas um serviço alienígena que disputará o pouco espaço que havia sobrado para tentar levar um pouco mais de dignidade para o noroeste metropolitano.

Não custa repetir: que tenhamos piedade de nós mesmos. Poderia ter sido diferente.

Contextualização Recentemente, duas notícias preocupantes foram publicadas pelo site Metrô CPTM: a primeira delas, voltada para o futuro TIC (Trem Intercidades) para Campinas, aponta que o governo deve descartar a necessidade de construção de pátios de manutenção pela iniciativa privada, aumentando a pressão sobre os pátios da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos); já a segunda notícia aponta uma curiosa mudança de planos, na qual o TIC para São José dos Campos seguiria pelo leito da Linha 11-Coral (Luz-Estudantes), a mais movimentada da CPTM, até desenvolver um traçado segregado em Mogi das Cruzes, supostamente utilizando a Variante do Parateí para chegar até a Estação São José dos Campos.




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