9 situações em que a CPTM supera o Metrô

Por Caio César | 27/08/2017 | 12 min.

Legenda: Dois trens novos se cruzam na Linha 7-Rubi
Será mesmo que a CPTM sempre fica devendo quando comparada com o Metrô? Descubra

Índice


Como costuma ser defendido em vários dos artigos publicados pelo COMMU, a Região Metropolitana de São Paulo tem hoje e cada vez mais, dois sistemas de metrô, um nascido pelas mãos do município e o outro, fruto da “costura” e de diferentes ferrovias, que continuam sendo modernizadas e transportando cada vez mais passageiros a cada ano. Décadas de desinvestimento e a passagem por uma série de periferias e cidades menos prestigiadas da metrópole, no entanto, colocam um dos sistemas no limbo. São listadas a seguir nove situações em que o “patinho feio” não é tão feio assim.


1. Maior abrangência de atendimento, avançando por 22 municípios

Como as linhas operadas pela CPTM nasceram pelas mãos de diferentes empresas ferroviárias, que operavam serviços em um contexto de atendimento totalmente diferente, ainda antes da fase de metropolização da Grande São Paulo, as 6 linhas acabam sendo mais abrangentes, com cerca de 130 km dentro da capital e 130 km fora da capital, com 92 estações ao todo. Os 130 km fora da capital percorrem 21 municípios, com o sistema funcionando em vários deles para deslocamentos internos, caso de Mogi das Cruzes (Jundiapeba, Braz Cubas, Mogi das Cruzes e Estudantes), Osasco (Presidente Altino, Osasco, Comandante Sampaio, Quitaúna e General Miguel Costa), Barueri (Antonio João, Barueri, Jardim Belval e Jardim Silveira) e Santo André (Utinga, Prefeito Saladino e Prefeito Celso Daniel-Santo André).

Legenda: Foto noturna do terminal rodoviário Geraldo Scavone, localizado ao lado da Estação Estudantes

O atendimento a múltiplos municípios também permite um acesso conveniente a rodoviárias localizadas fora da capital, como os terminais rodoviários de Osasco, Santo André (Tersa) e Mogi das Cruzes (Geraldo Scavone), o que beneficia quem mora em diversas cidades atendidas pelas linhas da CPTM, além de moradores de certos bairros da capital, que não precisam se deslocar para estações como Portuguesa-Tietê, Palmeiras-Barra Funda e Jabaquara. Com a inauguração da Linha 13-Jade, o acesso ao terminal rodoviário de Guarulhos pela futura Estação Guarulhos-CECAP deverá beneficiar moradores do extremo leste da capital, de Poá e de Itaquaquecetuba. Como também veremos a seguir, o atendimento mais abrangente passa por uma série de centralidades (algumas delas fortes o suficiente para terem projeção metropolitana), sem deixar a região central da capital de lado (atendida pelas estações Brás, Júlio Prestes e Luz).


2. Atendimento aos novos centros metropolitanos da capital

O mérito quase acidental recai sobre a Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú), originada a partir de um tímido ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, cujo atendimento de caráter urbano, ainda quando a metropolização da capital não tinha atingido seu auge, era extremamente precário e limitado. Décadas depois da ideia de implantar paradas como Monark (vizinha à fábrica de bicicletas homônima), a industrialização ao longo de uma das margens do Pinheiros passou a dividir espaço com o surgimento de edifícios de escritórios cada vez mais sofisticados, foi neste contexto, que no final da década de 1990 foi executado o programa de “dinamização da Linha Sul”, que concluiu estações previstas pela Fepasa, mas cujo poder público não havia tentado erguer, até aquele momento.

Legenda: Estação Hebraica-Rebouças (detalhe da passarela internamente) e Estação Berrini (plataforma e passarela)

Os primeiros anos do novo milênio foram marcados pela inauguração de estações hoje já incorporadas à vida da capital, como Hebraica-Rebouças, Vila Olímpia, Berrini e Morumbi.


3. Atendimento a importantes subcentros, inclusive fora da capital

A herança diversa da CPTM se traduz num atendimento muito mais amplo, como comentado acima. Ainda que o atendimento possa ser qualificado como periférico (e até mesmo chamado de suburbano, embora as cercanias não costumem apresentar traços suburbanos, mas sim totalmente urbanos, ainda que nem sempre com infraestrutura adequada), ele também contempla centros com importância regional e metropolitana fora do município de São Paulo, tais localidades são relevantes para equilibrar a oferta de comércio e serviços, proporcionar algum grau de geração de empregos, além de abrigar órgãos do poder público. Em algumas situações o atendimento da CPTM pode funcionar como um sistema de alta capacidade aproximador, exigindo a utilização de uma linha de ônibus para atingir a centralidade.

Veja alguns exemplos na Grande São Paulo a seguir:

  • Mogi das Cruzes: atendimento ao centro histórico e comercial; atendimento ao centro cívico e Parque Monte Líbano, reduto gastronômico e boêmio do Alto Tietê;
  • Suzano: a estação homônima atende um dos maiores centros de comércio popular do Alto Tietê, a região conhecida como Quadrilátero Central;
  • Osasco: a área composta pelo calçadão de Osasco (atendida pela estação que leva o nome da cidade) e seu entorno é uma das mais dinâmicas quando se fala em comércio popular no oeste da Grande São Paulo, na verdade, ela é tão dinâmica, que só perde em volume de consumidores para a 25 de Março, na capital;
  • Barueri (Alphaville): diversas empresas instalaram seus escritórios em Alphaville devido ao baixo ISS, o que por sua vez fortaleceu a instalação de centros comerciais e o surgimento de um centro metropolitano que rivaliza com a Berrini, na capital; as estações Barueri, Antônio João e General Miguel Costa fornecem os acessos mais cômodos no ponto de vista da intermodalidade (Trem Metropolitano-ônibus intermunicipal e Trem Metropolitano-ônibus municipal);
  • Santo André: além do comércio popular presente no calçadão Oliveira Lima, cujo charme recai ao trecho coberto, a cidade abriga indústrias e um polo gastronômico no Bairro Jardim; o complexo formado pela Estação Prefeito Celso Daniel-Santo André e os terminais EMTU Santo André Leste e Santo André Oeste impressiona, permitindo também acesso ao Corredor ABD;
  • São Caetano do Sul: o IDH elevado da pequena cidade, cujo sistema de ônibus conta com apenas 8 linhas, é reforçado por bairros simpáticos como o Barcelona (Estação Utinga) e uma região central bem integrada à CPTM (Estação São Caetano).

Legenda: Da esquerda para a direita: Estação Antônio João e ônibus da linha T253VP1; acesso à Estação General Miguel Costa, à esquerda e Terminal Km 21, à direita e; placa da parada F, na plataforma 2 do Terminal Km 21

Veja alguns exemplos em São Paulo a seguir:

  • Lapa: o bairro é atendido por duas estações homônimas, possuindo um tradicional mercado municipal, terminal de ônibus (conectado à Estação Lapa da Linha 8-Diamante por um calçadão arborizado) e forte comércio popular (conectado à Estação Lapa da Linha 7-Rubi por uma passagem subterrânea);
  • São Miguel Paulista: nas proximidades da antiga estação diversas ruas foram convertidas em calçadão, abrigando intenso comércio popular. A atual estação está localizada a poucos metros da antiga e o acesso principal fica de frente para a Praça do Forró e a Capela de São Miguel Arcanjo; sua força como centralidade fica reforçada por ligações perimetrais da SPTrans para a Estação Guaianazes, além de linhas de ônibus com destino à periferia de Guarulhos;
  • Itaim Bibi: estações como Vila Olímpia e Cidade Jardim permitem acesso a um conjunto impressionante de escritórios e “ecossistema” de apoio, como bares, restaurantes e shopping centers; enquanto a Estação Cidade Jardim permite acessar o Parque do Povo, a Estação Vila Olímpia possui acesso para a Ciclovia Rio Pinheiros.

4. Pioneirismo na utilização de trens com ar condicionado

Os primeiros trens com ar condicionado da CPTM chegaram em 1998, sendo um marco notável a inauguração do Expresso Leste em 27/05/2000, o qual contou com uma frota de trens inteiramente nova e dedicada para o novo serviço expresso, que naquela altura operava entre as estações Brás e Guaianazes (esta última contando com um edifício inteiramente novo em relação ao que era usado anteriormente).

Vídeo de uma visita programada no Expresso Leste, dois anos antes de sua inauguração. O trem usado naquele dia, da série 2100, já contava com ar condicionado, algo que a Zona Leste só conheceria pelas mãos da Companhia do Metropolitano no longínquo ano de 2010

A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) ganhou seus primeiros trens com ar condicionado na Linha 5-Lilás, inaugurada em 2002, porém, a linha foi construída pela CPTM e a especificação do salão dos trens seguiu praticamente o paradigma adotado por ela para a malha do Trem Metropolitano, daí a presença de ar condicionado, bancos com revestimento de tecido e portas entre carros. O Metrô só receberia trens com ar condicionado especificado conforme suas diretrizes em 2006, um atraso de aproximadamente 8 anos em relação à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, porém, enquanto o Expresso Leste iniciou do zero com trens refrigerados, a Linha 3-Vermelha, sua “prima” paradora, precisou esperar até 2010, ano de estreia da Frota H.


5. Oferta de bicicletários

Sem dúvida a CPTM está na frente quando falamos em operar e construir bicicletários.

Legenda: Bicicletário da Estação Engenheiro Goulart

Os motivos são claros: eles estão em maior número, estão espalhados tanto em estações periféricas quanto em estações-chave da RMSP, são maiores e, finalmente, possuem um horário de funcionamento muito mais confortável. Enquanto os bicicletários da CPTM funcionam no mesmo horário de referência das estações, ou seja, dom-sex das 4h00 à 0h00 e sábados das 4h00 à 1h00, cobrindo basicamente todo o horário de funcionamento das 6 linhas da estatal, a Companhia do Metropolitano insiste em operar seus poucos bicicletários seg-seg das 6h00 às 22h00. Duas estações da CPTM integradas a parques do Governo do Estado de São Paulo possuem bicicletário: Villa Lobos-Jaguaré (233 vagas) e Engenheiro Goulart (152 vagas).

Legenda: Da esquerda para a direita: passarela da Estação Engenheiro Goulart, permitindo acesso ao Parque Ecológico do Tietê e; passarela da Estação Villa Lobos-Jaguaré, permitindo acesso ao Parque Villa-Lobos

Os maiores bicicletários da CPTM contam com 576 e 480 vagas, localizados respectivamente nas estações Suzano e Itapevi. A capacidade dos bicicletários da Companhia do Metropolitano foi alvo de crítica pelo Mobilize em 2016. Há uma exceção para os bicicletários das estações Pinheiros (que também é uma estação da CPTM, na Linha 9) e Fradique Coutinho, operados pela concessionária ViaQuatro: eles seguem a mesma lógica de horários da CPTM, porém análoga ao horário do sistema da Companhia do Metropolitano, ficando abertos dom-sex das 4h40 à 0h00 e sábados das 4h40 à 1h00.


6. Paralelismo em alguns trajetos

O passado das antigas ferrovias favorecem a CPTM e quase chega a ser uma covardia comparar, no entanto, como o sistema da Companhia do Metropolitano é bem mais recente e não precisou de um processo intenso de modernização (uma verdadeira reconstrução, dependendo do caso), não há qualquer razão para ignorar fatos. A estrutura do trecho Tatuapé-Lapa possibilita uma série de estratégias em situações específicas (como greves), além de garantir algum grau de paralelismo. Chegamos a destacar características do trecho em nosso artigo sobre o tema “metrô 24 horas”, não deixe de conferi-lo.

Por exemplo, partindo da Estação Tatuapé, é possível chegar na Estação Brás com as linhas 11-Coral (Luz-Guaianazes-Estudantes) e 12-Safira (Brás-Calmon Viana), ainda, a Estação Barra Funda pode ser acessada diretamente da zona central por meio de duas estações: Luz e Júlio Prestes, usando as linhas 7-Rubi (Luz-Francisco Morato-Jundiaí) e 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno), respectivamente. Adicionalmente, a presença de duas estações Lapa, com as linhas 7 e 8 correndo paralelas até aquela altura, adiciona mais um exemplo de paralelismo.

Já em relação às situações específicas, é relativamente comum observar a operação da Linha 7-Rubi até a Estação Brás, a estratégia é colocada em prática durante greves e ações de manutenção/modernização. Também já houve registro de uma operação especial para torcedores do Palmeiras, na qual o Expresso Leste ofertou uma viagem a partir da Estação Palmeiras-Barra Funda (paralelismo com a Linha 7-Rubi até a Luz, portanto).


7. Pioneirismo na adoção de bilhetes com QR Codes

Aparentemente a CPTM tem desejado reduzir o uso do bilhete magnético, para tanto, mapeou as estações nas quais ele era mais usado e propôs uma alternativa em parceria com a Autopass (a mesma do Cartão BOM, utilizado nos intermunicipais da EMTU): emitir a passagem com QR Codes impressos.

Legenda: Folheto explicativo distribuído na Estação Lapa da Linha 8-Diamante

Para ter uma ideia da quantidade de QR Codes gerados e quais as estações participantes, confira fragmento de uma notícia oficial do início de 2017:

Entre outubro e dezembro do ano passado, foram emitidos mais de 61 mil bilhetes com QR Code nas seguintes estações: Vila Aurora, na Linha 7-Rubi, Lapa, na Linha 8-Diamante, Autódromo, na Linha 9-Esmeralda, Tamanduateí, na Linha 10-Turquesa, Dom Bosco, na Linha 11-Coral, e USP Leste, na Linha 12-Safira.

A iniciativa repercutiu até em sites como o Tecnoblog.


8. Sustentabilidade pioneira na Estação USP Leste

Poucos anos depois de sua inauguração, há cerca de sete anos, uma reportagem do Estadão apontava que a estação foi a primeira sustentável do mundo, posicionamento reiterado pelo portal AECweb em 2011.

Legenda: Estação USP Leste (vista a partir do mezanino e a partir da plataforma, com o acesso à universidade visível no canto superior direito)

Não ficou claro se a certificação foi de fato obtida, mas é inegável que houve uma tentativa e que até a pintura que revestia a cobertura da plataforma foi trocada.


9. Denúncias por SMS e pianos nas estações

Talvez você não se lembre, mas conforme uma antiga notícia do portal do Governo do Estado de São Paulo, a ideia de colocar dois pianos à disposição dos passageiros começou em 2009:

Em 2009, o Sesc doou os dois pianos da marca Zimmermann para a CPTM. O projeto deveria durar apenas algumas semanas, mas os pianos caíram no gosto do público e devem ficar por tempo indeterminado. Tal é o sucesso do Toque-me, sou teu, que a CPTM produziu o CD — Piano na Luz como parte da comemoração por seus 17 anos em junho de 2009. Participaram do disco as sete pessoas que mais se destacaram em suas apresentações espontâneas.

Após alguns anos, o programa infelizmente terminou, sendo que o último piano a passar pela CPTM foi na ocasião do 462º aniversário de Santo André, no Grande ABC. No Metrô, o programa, que também já terminou, surgiu em março de 2011 (conforme informações de uma antiga notícia da Companhia do Metropolitano), ou seja, surgiu dois anos depois de ser iniciado com sucesso na CPTM.

Já no caso do SMS Denúncia, o espaço entre a implantação na CPTM e no Metrô foi ainda maior: enquanto o passageiro do Trem Metropolitano passou a contar com o serviço em novembro de 2008, conforme informações do site oficial da CPTM, o passageiro do Metropolitano de São Paulo ganhou a mesma possibilidade apenas em janeiro de 2011, também conforme uma antiga notícia, ou seja, cerca de três anos depois.




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