Concessão dos terminais de ônibus do Metrô: cadê a participação social?

Por Caio César | 09/09/2017 | 5 min.

Legenda: Terminal urbano sul da Estação Carrão da Linha 3-Vermelha da Companhia do Metropolitano de São Paulo
O Governo do Estado de São Paulo segue firme nas intenções de conceder 15 terminais urbanos de ônibus à iniciativa privada. Vamos manter a passividade?

Índice


O terreno está pronto

Originalmente se falou em 17 terminais, conforme nós do COMMU adiantamos em artigo publicado em 21/09/2016, mas parece que o número final já está fechado: 15, a maioria deles na Linha 3-Vermelha (Itaquera-Barra Funda).

São Paulo terá 15 terminais de ônibus integrados a estações do...

São Paulo terá 15 terminais de ônibus integrados a estações do Metrô concedidos à iniciativa privada. Veja quais serão ▶

Publicado por Governo do Estado de São Paulo em Sexta-feira, 25 de agosto de 2017


Ana Carolina Nunes, conselheira do CMTT pela mobilidade a pé em São Paulo (veja mais sobre a câmara temática aqui), dispara uma série de questionamentos que, dada a postura habitual do governo estadual, infelizmente ficarão sem respostas:

  1. Cadê a participação social nesse processo?
  2. Quantas consultas públicas rolaram?
  3. Qual o organismo de controle?
  4. Como a sociedade civil vai acompanhar o cumprimento das condições?

Vale frisar que marcamos presença na audiência realizada em 22/09/2016 no Instituto de Engenharia, aquele instituto insuspeito, que deixa diversas revistas de um certo parlamentar do PSDB na mesa de centro da antessala do mini-auditório (local utilizado para realizar a audiência naquele dia). Em outras palavras: a atual administração segue blindada, se dependermos de certos setores da sociedade.

Legenda: Alguém achou que não iríamos fotografar uma coisa dessas?

A situação dos terminais

Uma droga. Assim, “na lata” mesmo. Está uma droga. Piso desnivelado, presença de alguns poucos agentes terceirizados de segurança (e olhe lá), quiosques de alimentação minúsculos que em alguns momentos convivem com o comércio ambulante (os seguranças do Metrô não atuam nos terminais), comunicação visual desleixada (entregue à SPTrans e à própria sorte) e uma sensação generalizada de falta de renovação, um quase abandono.

Precisava ser assim? É claro que não. O atual governador afirma que são 24 milhões anuais em manutenção. Alguém já viu algum relatório dedicado ao assunto, detalhando a manutenção dos terminais, visto que terminais como Tatuapé Sul possuem o mesmo aspecto de sujeira e piso desnivelado há anos? Nós nunca vimos.

A fala entusiástica do secretário reforça a ideia de que a Companhia do Metropolitano já definiu suas intenções e expectativas. Não há espaço para a opinião do passageiro. Pois bem, teremos novas aberrações, ao melhor estilo Shopping Metrô Santa Cruz, com espaço exíguo para circulação e um projeto claramente mal feito, priorizando ao máximo a utilização da área para o centro de compras? Ou então vamos conviver com uma operação desleixada e sem contrapartidas, que não consegue nem mesmo manter a comunicação visual sem vestígios dos anos 1990, como é o caso da concessionária Socicam na rodoviária da Barra Funda, também integrada à Linha 3-Vermelha do Metrô (além das linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM)? Aliás, se alguém aqui acha que a CPTM ou o Metrô demoram para consertar suas escadas rolantes, não deixem de conhecer a Socicam, ela consegue ser pior.

Fato é que ninguém sabe ao certo qual será o resultado. Teremos cronogramas primorosos das obras, pelo menos? A implantação será faseada, de forma a minorar eventuais impactos? Mais perguntas pairam no ar.

No terminal turístico da Barra Funda o Metrô se limita a colocar avisos informando sobre a importância de desligar os motores dos ônibus, mas não fiscaliza, sendo óbvio o resultado: nenhum motorista respeita. Pior ainda, a circulação dos fretados das empresas de call center da região é problemática, interferindo nas linhas da SPTrans. No terminal urbano da outra extremidade da mesma estação, as viaturas policiais da Delpom (Delegacia do Metropolitano) possuem diversas vagas que ocupam espaço nas plataformas, o que inclusive reduz o potencial de exploração comercial e dificulta uma melhor circulação de pessoas.

Infelizmente, o Terminal Urbano Barra Funda (Norte e Sul) foi uma extensão não projetada originalmente, por isso sofre com a falta de espaço e a desorganização. Quércia abriu a estação no fim de 1988 apenas com terminais do metrô, trens (a estação recebia trens de longa e média distância da Fepasa) e ônibus rodoviários. Os ônibus urbanos só passaram a ter o próprio espaço em meados de 1991. Faltam terminais de ônibus na região oeste, sendo que Barra Funda e Lapa encontram-se sobrecarregados. A EMTU e a SPTrans tem um terminal improvisado numa praça da Lapa (Praça Professor José Azevedo Nunes) — que inclusive tem projeto de se tornar Pró-pólo da EMTU) — e parte das linhas de ônibus municipais param atrás do mercadão da Lapa por falta de espaço. O ideal seria a futura estação Água Branca (linhas 6-Laranja, 7-Rubi e 8-Diamante) ter um terminal urbano para ajudar a absorver linhas e desafogar Lapa e Barra Funda.

E não para por aí, o terminal norte da Estação Tatuapé, apesar de ser maior, é mais ocioso em comparação com o terminal sul. Mesmo com a presença de dois shoppings, não há bicicletário ou para-ciclos, ainda que exista espaço. Aliás, o Metrô tem uma política tacanha para bicicletários, como já comentamos aqui.


Conclusão

Não é necessariamente um problema a decisão de explorar receita extra-tarifária usando o espaço aéreo de terminais de ônibus historicamente operados de maneira desleixada, mas certamente é um problema conduzir um processo nada participativo e sem garantias claras para quem depende dos terminais para chegar e sair do sistema de trilhos, como é o caso de diversos usuários da Linha 3-Vermelha.


Galeria de fotos

Aqui vão algumas fotografias de três terminais da Linha 3-Vermelha, para melhor evidenciar o estado atual deles.

Carrão Sul

Tatuapé Sul

Barra Funda Sul


Colaborações: Ana Carolina Nunes e Ivo Suares



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