Expansão da Linha 11-Coral até a Barra Funda divide opiniões nas redes sociais

Por Caio César | 16/05/2021 | 12 min.

Legenda: Trem sentido Estudantes dando entrada na Estação Brás
Maioria é contra. Tabulamos e analisamos quase 400 comentários em torno da mais movimentada linha da CPTM

Índice


Introdução

Em resposta à licitação de número 0463200001, descrita como “prestação de serviços de engenharia especializada para a elaboração de projeto executivo, fornecimento e implantação dos sistemas de rede aérea de tração, sinalização/SCT, suprimento de energia de tração e via permanente para a extensão da Linha 13 - Jade, trecho Luz - Barra Funda da CPTM”, começaram a surgir reportagens em diferentes tipos de mídias sobre a expansão da mais movimentada linha da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e, com elas, diferentes tipos de opiniões nas redes sociais monitoradas pelo Coletivo.

Após um esforço que durou semanas, consistindo na tabulação manual dos comentários, classificação e análise, gostaríamos de tecer algumas considerações a respeito do burburinho em torno da expansão da Linha 11-Coral (atualmente Luz-Estudantes).


Veículos consultados

No total, foram tabulados 390 comentários, sendo um único comentário extraído do Twitter e os restantes distribuídos em 4 diferentes veículos midiáticos, conforme o gráfico e a tabela a seguir:

Legenda: Distribuição dos comentários por veículo, tipo, canal e filtro

A existência de veículos regionais do leste metropolitano contribuiu para aumentar significativamente o número de comentários, além de talvez ter contribuído para a construção de um recorte que não ficasse muito restrito a um público especializado e, portanto, com maior conhecimento técnico ou vínculos empregatícios com a CPTM ou outra empresa do mesmo ramo.

Apesar de a tabulação ter sido feita manualmente, a maior limitação foi de volume, e não de capacidade de trabalho, em outras palavras, teríamos tentado tabular mais comentários, se tivéssemos encontrado quando iniciamos o mapeamento dos alvos (considerando a data-limite de 18/04/2021). Vide tabela abaixo:

Legenda: Distribuição dos posts por data, incluindo seus endereços

Devido à elevada quantidade de ruído, típica das redes sociais, os comentários foram classificados em 6 categorias: Excluído, Negativo, Neutro, Positivo, Reclamação e Sugestão, cuja participação pode ser vista no gráfico e na tabela a seguir:

Legenda: Categorização dos comentários

Veremos mais detalhes nas próximas seções.


Comentários excluídos

Alguns comentários foram tabulados, mas não puderam ser classificados em nenhuma categoria significativa para discussão. Foram descartados comentários considerados ambíguos, comentários contendo questionamentos, comentários fora do tema e, principalmente, comentários com teor inadequado, como discussões com ataques pessoais, comentários com teor jocoso e/ou de chacota nos quais não havia uma opinião etc, conforme o gráfico e a tabela a seguir:

Legenda: Comentários excluídos por motivo de exclusão

Comentários positivos e negativos

Como pode ser evidenciado no gráfico a seguir, opiniões negativas tiveram predomínio, com 61,02% (108 comentários) ante apenas 38,98% (69 comentários). Temos, desta forma, um universo bem pequeno para uma linha que ostentava uma média de passageiros transportados nos dias úteis de 686,5 mil, conforme dados oficiais de novembro de 2019.

Legenda: Quantidade de comentários positivos e negativos

O principal sentimento negativo está associado com a percepção de que a superlotação piorará na linha, seguido de sentimentos genéricos de reprovação (ou seja, a pessoa comenta que haverá piora, sem elaborar), sentimentos questionando a prioridade da medida (ou seja, a pessoa acredita que há coisas mais importantes a serem feitas pela CPTM), sentimentos em torno da possibilidade de aumento do intervalo entre os trens, sentimentos em torno da possibilidade de viagens mais demoradas e, finalmente, uma pessoa ainda expressou o sentimento de que a viagem se tornará mais cansativa.

Legenda: Classificação dos comentários com sentimentos negativos

A maioria dos sentimentos positivos são genéricos, ou seja, pessoas comentando que consideram a novidade boa, sem detalhar o motivo para tal percepção. Parcelas menores expressaram opiniões mais elaboradas em seus comentários, que corresponderam respectivamente, a sentimentos em torno de uma maior distribuição da demanda, ampliação da capilaridade ou redução das transferências.

Legenda: Classificação dos comentários com sentimentos positivos

Comentários contendo sugestões

Os comentários contendo sugestões foram subclassificados em estratégias operacionais, sugestões de expansão da rede metroferroviária e ações de readequação ou modernização da malha existente, conforme podemos visualizar no gráfico e na tabela abaixo:

Legenda: Classificação dos comentários com sugestões

No caso das expansões, é possível identificar um caráter mais difuso nas respostas, com alguns padrões interessantes, vide gráfico e tabela:

Legenda: Classificação dos comentários com sugestões para expansão da malha

Na página do Facebook do Diário de Suzano, uma série de pessoas pleiteou uma expansão para Ribeirão Pires, município turístico do Grande ABC, que atualmente é acessado por ônibus, embora exista uma ferrovia usada pela MRS Logística para o transporte de cargas entre Suzano e Rio Grande da Serra, já na página do Facebook d’O Diário de Mogi, uma série de pessoas pleiteou a expansão da Linha 11-Coral até Cezar de Souza.

O Diário de Mogi ataca novamente. Nas palavras de Darwin Valente, ausência de eletrificação e circulação de trens cargueiros são pequenos problemas para expansão da Linha 11-Coral (Luz-Estudantes) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Para o colunista, que não estimou valores e muito menos parece ter consultado especialistas, tudo se resume a vontade política. Legenda: Diagrama recortando as linhas da CPTM que atendem a Zona Leste da capital e a Sub-região Leste da Região Metropolitana de São Paulo De partida, Valente omite o desafio de cruzar a movimentada Av.

Tivemos ainda um grupo de pessoas solicitando a expansão da malha metroferroviária para o município de Cotia, na porção sudoeste da metrópole, além disso, foram observados comentários solicitando uma linha de metrô redundante até Mogi das Cruzes ou Suzano, algo que não faz nenhum sentido.

Introdução Este artigo tem sido esboçado há mais de um ano. Ainda não entendemos os motivos, mas a ideia de que é preciso que uma companhia específica construa um tipo específico de linha na Zona Leste, para atender um tipo específico de deslocamento, tem nos incomodado bastante. Do que estamos falando? Das pessoas que acreditam que construir mais linhas radiais de metrô é a única saída para desenvolver seus bairros, mesmo que suas opiniões sejam absolutamente vazias.

É também interessante observar pleitos em torno de outros municípios do Alto Tietê (Arujá, Guararema, Biritiba Mirim e Santa Isabel, além de Guarulhos) e também da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e do Litoral Norte, que apareceu três vezes, em duas delas, com menção explícita a terminais em São José dos Campos, sede daquela região metropolitana e de Aparecida, município conhecido pelo turismo religioso.

A outra parcela das sugestões que gostaríamos de discutir dizem respeito a estratégias operacionais, vide gráfico:

Legenda: Classificação dos comentários com sugestões para estratégias operacionais. Observações: ITQ = Estação Corinthians·Itaquera; LUZ = Estação Luz; BAS = Estação Brás; SUZ = Estação Suzano

Há predomínio de duas estratégias: (i) a redução dos intervalos entre trens, o que geralmente exige a ampliação da frota e, dependendo do caso, modificações no subsistema de sinalização e no subsistema de fornecimento de energia elétrica, além de poder esbarrar na falta de pátios e abrigos; e (ii) a liberação da integração em Corinthians·Itaquera, que apesar de ter sido aberta em 2012, possui horários restritivos.

A questão da integração em Corinthians·Itaquera (e, por extensão, em Tatuapé) é muito delicada. Da parte do COMMU, sempre ficamos com receio de uma migração massiva de passageiros da Linha 11 para a Linha 3-Vermelha (Palmeiras·Barra Funda-Corinthians·Itaquera), que poderia colapsar, com efeitos perversos na operação comercial, como risco de superlotação das estações, risco de violência entre passageiros, risco de vandalismo, entre outros problemas. A reabertura e/ou reconstrução das estações que eram redundantes com as da Linha 3-Vermelha (Clemente Falcão, Engenheiro Sebastião Gualberto, Carlos de Campos, Patriarca e Engenheiro Arthur Alvim), na nossa opinião, não faz sentido.

Introdução O Expresso Leste é um serviço da Linha 11-Coral (Luz-Guaianazes-Estudantes) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) que oferece a única ligação expressa sobre trilhos de toda a Região Metropolitana de São Paulo. Inaugurado em 27/05/2000, o Expresso Leste foi um divisor de águas na mobilidade da Zona Leste da capital, oferecendo um serviço regular e com trens refrigerados que permitiam ao passageiro pular duas estações entre Brás e Tatuapé e todas as estações entre Tatuapé e Corinthians·Itaquera.

Alguns dos comentários pleiteando a liberação das integrações entre as linhas 3 e 11 partiram de pessoas que trabalham na região de estações intermediárias do trecho Corinthians·Itaquera-Tatuapé e que enfrentam dificuldades para o acesso. Não há uma resposta simples, mas é possível que, se o volume de pessoas não for tão significativo, serviços de ônibus expressos via Radial Leste poderiam ser uma opção.

Como já discutimos no passado, ao mesmo tempo que é preciso desenvolver as cercanias das linhas do sistema de trilhos que atendem a Zona Leste da capital, é também preciso atender os grandes deslocamentos pendulares. Não há um processo claro de transição em curso e diferentes tipos de público acabam tendo interesses antagônicos.

Quando dialogamos com certas parcelas do campo progressista, uma das maiores dificuldades é explicar que a luta por mais infraestrutura de transporte não se trata de “mais do mesmo”, como já nos foi dito por uma ciclo-ativista. É óbvio que a Zona Leste precisa de políticas e ações de desenvolvimento, que elevem o número de postos de trabalho e permitam que a economia local seja mais dinâmica, mas será correto julgar que a infraestrutura atual é suficiente?

O caso da redução dos intervalos é relativamente simples. Há uma expectativa muito grande em torno da sinalização com tecnologia de rádio, mas o cronograma sofreu atrasos e a CPTM não é transparente a respeito. Veremos se a concessão das linhas 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) e 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú), que prevê a aquisição de novos trens por parte do Grupo CCR, responsável pela concessão do par, poderá modificar o panorama de linhas como a 11-Coral.

Finalmente, estratégias propondo viagens parciais são bastante lógicas e a CPTM deveria envidar esforços para viabilizar viagens do tipo nos picos, de acordo com a situação das plataformas. Sabemos que os esforços podem envolver obras complexas de infraestrutura, mas não acreditamos numa redução significativa da pressão sobre a “calha central” (trecho Brás-Lapa), mesmo no longo prazo.


Comentários contendo reclamações

Os comentários contendo reclamações foram subclassificados em cinco tipos de sentimentos, conforme podemos visualizar no gráfico abaixo:

Legenda: Classificação dos comentários contendo reclamações

A grande maioria dos comentários manifesta a percepção de que a CPTM é muito lenta na realização de obras. Uma pequena parcela especulou que a ação é fruto de politicagem, com uma delas partindo para o campo das teorias conspiratórias, enquanto outros manifestaram insatisfação com os serviços ou falta de investimentos em linhas.

Foram 3 as reclamações apontando falta de investimentos em linhas, sendo 2 direcionadas à Linha 10 e 1 direcionada à Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana). Vale salientar que os comentários pré-datam o novo esquema do Serviço 710 da CPTM que, na prática, reunificou as linhas 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) e 7-Rubi (Brás-Jundiaí).


Conclusão

Este exercício foi, provavelmente, o mais intrincado já realizado pelo COMMU em matéria de extração de dados de redes sociais. No geral, fica a impressão de que a CPTM é muito pouco discutida pelas mídias regionais e, por isso, há muito ruído quando algum tipo de reportagem sobre a empresa aparece, sendo usada como “válvula de escape” para problemas de caráter estrutural.

Apesar dos muitos comentários negativos, principalmente com vistas à possibilidade de superlotação, é preciso deixar claro que vários deles são de pessoas que admitem a possibilidade de realização de viagens negativas (ou seja, quando o passageiro aumenta o trajeto em direção ao terminal da linha no contrafluxo, tentando garantir um lugar sentado) e/ou que não estão preocupadas com necessidades coletivas ou individuais fora do horizonte imediato.

Além de a CPTM ser muito pouco discutida, o papel do Trem Metropolitano (nome oficial do serviço), apesar de ser, muitas vezes, um serviço de metrô de facto, escancara problemas muito complexos de ordenamento territorial, segregação socioespacial e divisão socioeconômica.

Acreditamos na possibilidade de que a oferta de serviços seletivos (uma espécie de trem macrometropolitano ou “macrô”, em alusão a um atendimento mais apropriado para avançar pela Macrometrópole Paulista), por meio de uma estratégia mais próxima de serviços híbridos regional-metropolitanos, tais como os existentes na metrópole parisiense, pudessem suavizar as grandes distâncias, no entanto, o governo não tem acenado nesta direção e, além disso, não nos é claro qual seria o melhor formato em termos de tarifa, para não dizer que a situação da Linha 11 é, provavelmente, a pior em termos de margem de oferta para um serviço com características mistas, o que exigiria, provavelmente, esforços envolvendo a Linha 12-Safira.

Legenda: Conceito de trem macrometropolitano partindo de uma estação (Kassio Massa)

Como alguns dos comentários sugeriram a expansão da Linha 12-Safira até Suzano (uma antiga promessa de gestões passadas), há margem para que o seletivo seja encarado como um serviço variante, especialmente pensado para atender os dois municípios com maior complexidade econômica do Alto Tietê que são serviços pelas linhas 11 e 12, ou seja, Suzano e, principalmente, Mogi das Cruzes, que concentra riqueza e aparenta maior sofisticação no tecido de comércio e serviços.

Finalmente, temos dúvidas sobre a viabilidade (inclusive ambiental) de um serviço entre Suzano e Ribeirão Pires ou Rio Grande da Serra.


Balanço

O COMMU é a favor

  • Ampliação da Linha 11-Coral para Palmeiras·Barra Funda;
  • Estudo de serviços complementares para passageiros que precisam desembarcar nas cercanias das estações da Linha 3-Vermelha localizadas entre Corinthians·Itaquera e Tatuapé;
  • Implantação de serviços parciais com trens vazios partindo de estações como Luz e Brás nos picos, para melhor distribuir a demanda;
  • Estudo de serviços seletivos como uma estratégia de dinamização da Linha 12-Safira;
  • Adoção de estratégias operacionais que coíbam as viagens negativas, como embarques em plataformas separadas, exigindo que o trem mude de via e que o comando seja trocado para a cabine oposta.

O COMMU é contra

  • Reconstrução das estações intermediárias da Linha 11-Coral localizadas entre Corinthians·Itaquera e Tatuapé;
  • Abertura indiscriminada dos portões de integração entre as linhas 3 e 11 nas estações Corinthians·Itaquera e Tatuapé;
  • A construção de uma linha de metrô redundante ou a expansão da Linha 3-Vermelha até Suzano e/ou Mogi das Cruzes.



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