Por que devemos lutar pela transformação dos subúrbios?

Por Caio César | 28/10/2015 | 5 min.

Legenda: Centro de Mauá, no Grande ABC
Ir além do status quo e buscar um padrão de desenvolvimento que beneficie maiores parcelas da população é uma necessidade urgente

É muito comum para nós do COMMU recebermos ataques no Facebook quando defendemos, por exemplo, mais infraestrutura cicloviária ou a abertura da Avenida Paulista para as pessoas, muito mais raro, porém, é recebermos propostas ou comentários visando uma nova ocupação de espaços comerciais movimentados na periferia da capital ou nas cidades da Grande São Paulo. Quando surge alguém mencionando a periferia, o que encontramos é a utilização desonesta das regiões periféricas para defender o status quo, para defender que tudo permaneça como está, num claro tom de aproveitamento da situação.

Nós não vamos ceder e é importante que você também não se deixe levar! Comprar o discurso de ódio é comprar o discurso do atraso.

Não podemos sair atacando o que acontece na Avenida Paulista, dando um gosto amargo às importantes transformações que estão acontecendo, o que precisamos, na verdade, é aproveitar o momento, aproveitar que as discussões sobre cidades estão sendo feitas com mais frequência, mostrando que São Paulo é muito mais do que certas regiões badaladas — não por estas serem preferidas de uma ou mais administrações ou figuras do poder público, mas por estarem muito mais frequentemente em pauta na mídia, seja ela impressa, radiofônica, televisiva ou cibernética.

Quando insistimos em pautar a CPTM (uma série de artigos já foram publicados), existe uma opção clara feita pelo Coletivo: o Trem Metropolitano é, na grande maioria das vezes, o único meio estruturante e troncal existente fora da capital. Em algumas cidades, a CPTM conta com três ou mais estações, ou seja, existe também uma atuação no sentido do corredor ferroviário ter um papel relevante na mobilidade urbana local. Se não existe a visão do potencial da ferrovia, as transformações demoram para acontecer ou, pior, não acontecem.

Legenda: Linha 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi-Amador Bueno) da CPTM: cinco estações em Osasco e quatro estações em Barueri; Linha 12-Safira da CPTM (Brás-Calmon Viana): com novas estações construídas na última década, o atendimento a áreas importantes de comércio e serviços no extremo leste foi reforçado

O grande problema é que pautar a CPTM é apenas a ponta do icebergue, não são apenas os trens operados por ela quase irrelevantes, os subúrbios, ou seja, as cidades e periferias atendidas também o são. Pouco importa Barueri e o peso de Alphaville na economia daquela região, pouco importa quantas pessoas compram diariamente nos calçadões de Osasco ou São Miguel Paulista, não faz diferença, ou melhor, não faz diferença dentro do comportamento monotemático da imprensa, que prefere espremer um mesmo assunto até esgotá-lo, contribuindo muito menos do que poderia contribuir. Passa a ser muito fácil ter a impressão de que apenas a Paulista pode receber certas intervenções, afinal, só se fala dela, não é mesmo? Bem… errado, a Paulista é um exemplo, um exemplo, aliás, cuja mobilização não começou ontem, se a imprensa prefere falar apenas dela e tratar políticas públicas (vide o projeto Ruas de Lazer) como uma ação isolada, precisamos mostrar que somos capazes de pensar sem depender dos grandes jornais, pelo nosso bem e pelo bem das cidades.

Legenda: Parque do Carmo (Itaquera; foto por Celio Pardinho) e Solo Sagrado de Guarapiranga (Parelheiros; foto por Daniel Souza Lima). Nas discussões sobre espaços públicos, a periferia muitas vezes é mencionada de forma genérica, na qual os os equipamentos existentes são misteriosamente ignorados. Tenta-se reforçaruma imagem — que consiste em alimentar o senso comum— para inibir transformações em áreas centrais, quando o contrário deveria ser feito: validar as transformações em áreas centrais, combater o preconceito e desenvolver áreas periféricas aproveitando experiências bem sucedidas nas áreas centrais

As transformações em busca de uma cidade mais compacta e funcional podem e devem acontecer fora de eixos badalados e extremamente bem conhecidos, mas para tanto, será preciso reconhecer a importância das regiões que estão sendo ignoradas e buscar a expansão das políticas públicas necessárias para mudar o cenário que tem levado ao atraso. Rechaçar só reforçará o isolamento dos subúrbios, fortalecendo a visão generalista de região dormitório, aquela que implica na absoluta dependência do Centro Expandido de São Paulo.

Assim, leitor, qual o tipo de desenvolvimento você quer para a Grande São Paulo? E o quão disposto está para fomentá-lo? Vivemos diariamente o desequilíbrio, em que poucas linhas do Metrô e da CPTM conseguem ter carregamentos uniformes. A presença do ônibus como modal continua sendo mais necessária do que deveria. Longas distâncias são percorridas no mais absoluto desconforto. Horas de sono são perdidas. As distâncias são vencidas não para recebermos em troca um passeio ou uma maior diversidade de opções de equipamentos (sejam eles públicos ou privados, dos mais variados fins), mas como uma imposição ilógica, fruto de um planejamento pouco participativo e baseado no modelo falido e fracassado do automóvel.

Definitivamente o desenvolvimento precisa estar apoiado no transporte coletivo, preferencialmente sobre trilhos, abrindo espaço para áreas comerciais ainda mais vivas, ocupadas por pessoas, bem como seguras e confortáveis, nas quais o automóvel tem seu papel regulado, reduzindo o estresse e a poluição, garantindo também a saúde da logística de mercadorias dos comerciantes. Só assim será possível garantir o desenvolvimento continuado dos subúrbios, fortalecendo as centralidades e sub-centralidades existentes.

Seja você também um agente que luta pela transformação dos subúrbios! Lutemos todos por uma Grande São Paulo mais equilibrada, com melhor qualidade de vida.




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