Monotrilho: capacidade está longe do esgotamento

Por Caio César | 31/01/2020 | 4 min.

Legenda: Estação Oratório
Aprenda a executar cálculos simples e rejeite manchetes sensacionalistas

Notícias abordando as estratégias de contenção de fluxo de passageiros na Linha 15-Prata (Vila Prudente-São Mateus) parecem ter desencadeado a noção de que uma das mais novas linhas da Companhia do Metropolitano de São Paulo, poucos meses após chegar em São Mateus, na periferia da capital paulista, teve sua capacidade esgotada. Nada mais falso.

Segundo dados oficiais acerca da infraestrutura, sabe-se que 189 carros integram a frota da Linha 15-Prata, sendo que as composições, que possuem 7 carros cada, nos picos circulam a cada 3 minutos e 40 segundos (204 segundos). Ora, se as composições possuem 7 carros cada, temos 189 ÷ 7 = 27 trens. Ora, se a cada 3,4 minutos um trem passa, temos 60 ÷ 3,4 = 17 trens/hora. Cada trem possui capacidade de carregar pouquíssimo mais que 1.000 passageiros, de forma que a oferta é de cerca de 17 mil lugares/hora. Como a linha opera em via dupla, a oferta deve ser calculada por hora e por sentido, então, simplificadamente, são 17 mil lugares/hora por sentido ou 34 mil lugares/hora no total. Não é uma capacidade impressionante, porém, a linha foi projetada para operar com 75 segundos de intervalo nos picos, não 204 segundos. Numa postura cética e conservadora, mesmo que os 75 segundos sejam uma capacidade estritamente de projeto, sem viabilidade técnica, poderíamos assumir 120 segundos (2 minutos) de intervalo possível nos picos, o que exigiria mais trens e a operação do Pátio Ragueb Chohffi, mas significaria uma oferta de 30 mil lugares/hora por sentido ou 60 mil lugares/hora no total. A capacidade quase dobrou e a redução foi apenas 1 minuto e 40 segundos. Não tem segredo.

Fica evidente também que a frota não é suficiente para oferecer 3,4 minutos de intervalo. Nos picos, é mais coerente assumir um intervalo de 5 minutos (o mesmo verificado pelo jornal Agora, vide hiperligação no primeiro parágrafo deste artigo). Ninguém precisa ser paranormal para perceber que há uma diferença grotesca entre 75 segundos e 5 minutos.

Atualização (16/02/2020): mais grave ainda é a suspeita de que o Metrô não pode adicionar mais trens por limitações nos pátios disponíveis: segundo a revista Brasil Engenharia, a capacidade do Pátio Oratório é de 28 trens; já segundo a Planservi Engenharia, a capacidade é de 26 trens, ou seja, falta frota e falta pátio. Não existe nenhuma previsão de avançar com o Pátio Ragueb Chohffi, localizado duas estações após Jardim Colonial, a única estação que se encontra em obras após São Mateus no momento da escrita deste artigo.

Finalmente, opiniões defendendo corredores de ônibus no lugar da Linha 15-Prata (como aquela presente na reportagem do Agora) possuem zero credibilidade, porque claramente são feitas sem observar o tecido urbano existente. Lamentamos que veículos como o Mobilize tenham reproduzido tal absurdo sem o devido senso crítico.

A Companhia do Metropolitano de São Paulo deve explicações pela operação relaxada e aquém do prometido. A empresa não assumiu compromisso ideológico ou panfletário, uma vez que adquiriu trens, sistemas e contratou uma série de obras civis para colocar a linha de pé. A operação da Linha 15 está muito abaixo do ideal, não por limitação da tecnologia, mas sim por motivos que não são bem esclarecidos, porque o baixo nível da imprensa torna fácil a vida de gestores abaixo da mediocridade.

Atualização (31/01/2020): recebemos informações apontando a ausência de funcionários para viabilizar uma operação com mais trens e, consequentemente, com menores intervalos e maior oferta de lugares. Uma das fontes salienta que testes com menores intervalos aos finais de semana só foram possíveis com a participação de funcionários de outros cargos e com o pagamento de horas extras. Adendo: mesmo que uma linha de metrô pesado e tradicional possa oferecer maior capacidade, não significa que ampliá-la é uma tarefa trivial. A Linha 5-Lilás (Capão Redondo-Chácara Klabin), por exemplo, tem operado com uma única plataforma na Estação Capão Redondo e 3 minutos de intervalo, numa situação ainda mais grave do que a da Linha 15-Prata. Pasme, até a CPTM, historicamente subfinanciada e herdeira de um sistema sucateado, tem reduzido gradativamente os intervalos de suas linhas, oferecendo 4 minutos entre Luz e Guaianazes, na Linha 11-Coral (Luz-Estudantes), e entre Pinheiros e Jurubatuba, na Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú). 1 minuto a mais do que a badalada operação privada da ViaMobilidade, que recebeu uma linha nova e sem indícios de sucateamento.




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