Contra adensamento, Rede Nossa Paulo banaliza descentralização e continua com narrativa do medo

Por Caio César | 24/12/2023 | 5 min.

Legenda: O maravilhoso entorno do eixo do corredor de ônibus da Chucri Zaidan, a uma distância caminhável do MorumbiShopping e da Estação Morumbi
Para Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais da organização, que contribuiu para que a revisão do zoneamento fosse um fracasso, São Paulo deveria ser descentralizada, preservando a “tranquilidade” dos moradores do Centro Expandido em detrimento do resto de nós, os derrotados na “loteria do CEP”

O artigo a seguir é uma adaptação de uma sequência de posts no X, feita em 22/12/2023 pelo nosso membro Caio César, que marcou a Rede Nossa São Paulo. Naquele dia, a Rede deu ênfase para dois parágrafos da reportagem “Novo zoneamento de SP melhora a sua vida? Veja o que dizem construtoras, especialistas e vereadores” do Estadão.

Legenda: Story publicado pela Rede Nossa São Paulo no Instagram

Mais uma vez, a Rede Nossa São Paulo está negando as próprias pesquisas que conduz. Não é razoável continuar com um discurso raso e irresponsável de “descentralização”. Negam-se os princípios de economia de escala que fazem da cidade uma cidade. Lamentavelmente, a fala do Igor é elitista e reforça o racismo estrutural.

A tal “tranquilidade” citada pelo coordenador cria inúmeros problemas e está associada com noções de paisagem e modos de vida incompatíveis com uma cidade orientada ao transporte. Na prática, é uma defesa de subúrbios, na forma de bairros centrais com densidade artificialmente reduzida, o que contribuir para criar ondas de choque no mercado imobiliário que elevam os preços não apenas localmente, mas em toda a região metropolitana, pelo menos. Absurdo! A Rede Nossa São Paulo está defendendo o modelo falido de cidades como Los Angeles e Houston.

“Todo mundo quer poder morar numa casa, ou num bairro que tenha uma verticalização não tão grande”, assim começa a fala de Paula Santoro, uma das representantes da intelectualidade da Universidade de São Paulo (USP). A construção de prédios em vez de casas vai desconfigurar bairros, destruir quadras e, por consequência, modos de vida. O alerta é da coordenadora do LabCidade, @paulafsantoro. Em entrevista na @CBNoficial , Paula detalhou os efeitos nefastos do PL da revisão do Plano Diretor.

Salientamos que a descentralização é um fenômeno de difícil reprodução, que depende dos mesmos atores tratados incondicionalmente como vilões pela Rede, cuja atuação a própria Rede ajudou a dificultar regular, ao se associar com proprietários reacionários do Centro Expandido.

A Rede implica que podemos reproduzir determinadas formas de acúmulo de capital de maneira indiscriminada, sem dizer como e quanto tempo vai levar. A descentralização atual, que envolve uma série de municípios da região metropolitana, como Osasco, Santo André, São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Barueri e Mogi das Cruzes, levou centenas de anos. E é do jeito que é: tímida, além de estar longe de ser homogênea. Sejamos realistas: mesmo Barueri, com padrões sofisticados de acúmulo de capital e estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços no Alphaville, não é comparável à Faria Lima.

Introdução Imagine viver numa região com 20 milhões de pessoas e ouvir discursos, geralmente proferidos por alguns moradores da capital, de que São Paulo precisa se descentralizar, numa noção reducionista, na qual há uma relação de dependência completa, como se pudéssemos separar todo um complexo e diverso território em duas metades: na primeira, a mancha formada pela Avenida Paulista, a região de Pinheiros e mais alguns lugares ao longo da Marginal Pinheiros, já na segunda metade, você tem todo o resto, tudo no mesmo balaio, da mais paupérrima periferia aos subúrbios mais ricos, com sedes de grandes empresas, tudo classificado e vitimizado como “o resto”.

A população, da classe média à classe baixa, está sendo tokenizada para fortalecer uma postura negacionista. E isso não é admissível. Voltamos a repetir: tivemos uma disputa entre herdeiros (com falas horripilantes na Câmara, importante sublinhar) e incorporadores (vários deles preguiçosos).

Era fácil de resolver: ampliar os eixos, parar com noções suburbanas de “miolo de bairro” e começar a olhar mais para a infraestrutura de transporte, sem negacionismo. O caminho escolhido, porém, foi outro: reduzir toda a discussão à verticalização e tentar limitar a produção imobiliária ao máximo, buscando proteger bairros nobres, com notório mau uso e ocupação do solo e baixa densidade habitacional.

Legenda: As extremamente limitadas áreas de influência da infraestrutura de transporte público, recuperadas no âmbito da tentativa de revisão do Plano Diretor Estratégico pela atual gestão, por meio de um diagnóstico inicial

Ao insistirem na defesa de eixos estruturadores que não valorizam uma simples caminhada de quinze minutos, Rede e associações (como Pró-Pinheiros e Defenda São Paulo) se colocaram numa posição perigosa e apostaram no jogo de soma-zero. Tentaram dar o troco contra o adensamento numa porção irrisória do território (então, cerca de 300 metros ao longo de um corredor de ônibus ou cerca de 600 metros ao redor de uma estação), mas receberam o “truco” do mercado, que em conjunto com a maioria de direita da Câmara, enfraqueceu os eixos de estruturação e flexibilizou a construção de edifícios mais altos no restante da cidade.

Infelizmente, durante as discussões do Plano Diretor Estratégico e da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (zoneamento), não houve nenhum esforço de qualificar ideias de projeto urbano e/ou de projeto de cidade: tivemos manutenção de privilégios ou práticas.

Finalmente, também marcamos a Rede Nossa São Paulo numa série de Reels no Instagram do Coletivo. Confira cada um deles a seguir:




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